Manoel de Barros, o poeta que mais vende livros no país. ( foto divulgação) |
O Brasil possui três manés geniais: Manuel Bandeira, Mané Garrincha e Manoel de Barros. Mas Manoel de Barros, o poeta pantaneiro, sintetiza os outros dois xarás: a simplicidade extrema de Bandeira e o espírito indomável de invenção de Garrincha. Algumas vezes, escreve versos que poderiam ser assinados pelo autor de Paságarda: “Só as coisas pequenas me celestam”. Em outras, parece o ponta-direita endiabrado, aplicando dribles líricos desconcertantes no senso comum, na razão e na normalidade: “Não era normal o que tinha de lagartixa na palavra paredes”. Manoel nunca permitiu que gravassem uma conversa sua. No entanto, ele surpreendeu o diretor Pedro Cezar e concedeu um precioso depoimento para o documentário Só dez por cento é mentira — a desbiografia oficial de Manoel de Barros, que ganhou uma versão em DVD. O filme faturou o prêmio de Melhor documentário no Festival de Cinema de Paulínia 2009.
Pelo que se vê, o delírio de Manoel é contagioso. Ele é, atualmente, o poeta que mais vende livros no Brasil, ou seja, muito possivelmente é o poeta mais lido no país . “A função da poesia não é informar; é encantar”, sustenta, com sua voz delicadamente firme. Como diria o célebre escritor satírico da Idade Média, François Rabelais, a poesia é a arte do inútil. Na verdade, Manoel inventou a citação e botou na boca de Rabelais para ganhar mais crediblidade.
Sempre se recusou a ser biografado e, para se prevenir, escreveu ele mesmo uma Memória inventada: “Já morri 17 vezes”, garante no texto. Em sintonia com esse espírito engenhoso, o diretor Pedro Cezar realizou um documentário inventado. Em sua oficina, um suposto neto de Manoel apresenta os objetos inspirados na poesia do avô: um prego que farfalha, um esticador de horizontes e uma fivela para prender o silêncio. Na cidade de Cuiabá, um suposto guia turístico aponta para o horizonte e indica com o dedo um ponto crucial da geografia poética de Manoel: “o morro que entorta a bunda da paisagem.”
Manoel leu os filósofos racionalistas, mas gosta mesmo é de Charlie Chaplin e dos seriados do Chaves. “Eu queria botar um rabo de papel na bunda da razão para ver se ela se transformava em poesia.” O consultor linguístico de Manoel é Palmiro, um caboclo baixinho que trabalhava na fazenda do seu pai, tocado pela mania de inventar: “Ando precário, com problema de quebradeira”.
Drummond lutava e João Cabral de Melo Neto saía do poema como quem lava as mãos. Manoel mantém uma relação lúdica e erótica com as palavras: “Às vezes, elas abrem o roupão para mim.” Para ele, a poesia é a arte de fazer a língua pegar delírio, inventar novos sentidos para as coisas e ampliar o nosso olho: “As coisas não querem ser vistas por pessoas normais/Elas querem ser vistas de azul/Que nem um girassol que você olha de ave”.
A poesia de Manoel é feliz. Ele mistura os sons, os perfumes e as cores do pantanal como se fosse um Rimbaud caboclo: “Hoje eu desenho o cheiro das árvores”. Aos 95 anos, Manoel é o poeta mais jovem do Brasil, sempre disposto a inventar e a brincar: “Um vendedor de carros me ligou, mas antes que ele começasse a arenga, eu disse: ‘Meu amigo, tenho 90 anos, sou cego e vivo em cima de uma cadeira de rodas’. Ele desligou na hora”, conta Manoel, no documentário, desaparecendo, mas deixando no ar o riso de menino arteiro, como se fosse o gato debochado de Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll.
» Ontem, choveu no futuro
» O tempo só anda de ida. A gente nasce cresce amadurece envelhece e morre. Pra não morrer tem que amarrar o tempo no poste. Eis a ciência da poesia: amarrar o tempo no poste
» Só quem inventa é dono
» Bernardo é quase árvore. Silêncio dele é tão alto que os passarinhos vêm de longe e pousam no seu ombro
» O olho vê.
A lembrança revê. E o poeta transvê o mundo
» O tempo só anda de ida.
A gente nasce cresce amadurece envelhece e morre. Pra não morrer tem que amarrar o tempo no poste. Eis a ciência da poesia: amarrar o tempo no poste
» Poderoso não é aquele que descobre ouro. Poderoso para mim é aquele que descobre as insignificâncias: do mundo e as nossas.
Por essa pequena sentença me chamaram de imbecil.Fiquei emocionado e chorei. Sou fraco para elogios
» Poesia é palavra que tem gorjeio dentro
» Eu escrevo e vivo absurdez
Pelo que se vê, o delírio de Manoel é contagioso. Ele é, atualmente, o poeta que mais vende livros no Brasil, ou seja, muito possivelmente é o poeta mais lido no país . “A função da poesia não é informar; é encantar”, sustenta, com sua voz delicadamente firme. Como diria o célebre escritor satírico da Idade Média, François Rabelais, a poesia é a arte do inútil. Na verdade, Manoel inventou a citação e botou na boca de Rabelais para ganhar mais crediblidade.
Sempre se recusou a ser biografado e, para se prevenir, escreveu ele mesmo uma Memória inventada: “Já morri 17 vezes”, garante no texto. Em sintonia com esse espírito engenhoso, o diretor Pedro Cezar realizou um documentário inventado. Em sua oficina, um suposto neto de Manoel apresenta os objetos inspirados na poesia do avô: um prego que farfalha, um esticador de horizontes e uma fivela para prender o silêncio. Na cidade de Cuiabá, um suposto guia turístico aponta para o horizonte e indica com o dedo um ponto crucial da geografia poética de Manoel: “o morro que entorta a bunda da paisagem.”
Manoel leu os filósofos racionalistas, mas gosta mesmo é de Charlie Chaplin e dos seriados do Chaves. “Eu queria botar um rabo de papel na bunda da razão para ver se ela se transformava em poesia.” O consultor linguístico de Manoel é Palmiro, um caboclo baixinho que trabalhava na fazenda do seu pai, tocado pela mania de inventar: “Ando precário, com problema de quebradeira”.
Drummond lutava e João Cabral de Melo Neto saía do poema como quem lava as mãos. Manoel mantém uma relação lúdica e erótica com as palavras: “Às vezes, elas abrem o roupão para mim.” Para ele, a poesia é a arte de fazer a língua pegar delírio, inventar novos sentidos para as coisas e ampliar o nosso olho: “As coisas não querem ser vistas por pessoas normais/Elas querem ser vistas de azul/Que nem um girassol que você olha de ave”.
A poesia de Manoel é feliz. Ele mistura os sons, os perfumes e as cores do pantanal como se fosse um Rimbaud caboclo: “Hoje eu desenho o cheiro das árvores”. Aos 95 anos, Manoel é o poeta mais jovem do Brasil, sempre disposto a inventar e a brincar: “Um vendedor de carros me ligou, mas antes que ele começasse a arenga, eu disse: ‘Meu amigo, tenho 90 anos, sou cego e vivo em cima de uma cadeira de rodas’. Ele desligou na hora”, conta Manoel, no documentário, desaparecendo, mas deixando no ar o riso de menino arteiro, como se fosse o gato debochado de Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll.
» Ontem, choveu no futuro
» O tempo só anda de ida. A gente nasce cresce amadurece envelhece e morre. Pra não morrer tem que amarrar o tempo no poste. Eis a ciência da poesia: amarrar o tempo no poste
» Só quem inventa é dono
» Bernardo é quase árvore. Silêncio dele é tão alto que os passarinhos vêm de longe e pousam no seu ombro
» O olho vê.
A lembrança revê. E o poeta transvê o mundo
» O tempo só anda de ida.
A gente nasce cresce amadurece envelhece e morre. Pra não morrer tem que amarrar o tempo no poste. Eis a ciência da poesia: amarrar o tempo no poste
» Poderoso não é aquele que descobre ouro. Poderoso para mim é aquele que descobre as insignificâncias: do mundo e as nossas.
Por essa pequena sentença me chamaram de imbecil.Fiquei emocionado e chorei. Sou fraco para elogios
» Poesia é palavra que tem gorjeio dentro
» Eu escrevo e vivo absurdez
Severino Francisco
Publicação: 07/08/2011 08:00 Atualização:
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