O primeiro comentário para caracterizar o que pode ser o semestre legislativo que se inicia efetivamente nesta semana mostra um quadro tenso nas relações entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. Esse quadro poderá se agravar caso persista a desarticulação política do governo. O principal adversário do governo não é a oposição, mas sim a sua própria base aliada, envolta em lutas fratricidas por vantagens de grupos ou nomes. (Roberto Chamorro)
Vários fatos foram encadeados durante o período do recesso parlamentar. Vamos começar pela saída do ministro Nelson Jobim e a escolha de Celso Amorim para o ministério da Defesa, elevando para três o número de ministros de Lula que deixam o governo Dilma. Aliás, o processo de “deslulização” do governo Dilma já acelerou. Dos 70% dos cargos de confiança na estrutura do Poder Executivo herdado pelo atual governo, já houve mudanças, e, agora, somente 40% de “lulistas” ocupam esses cargos.
Teremos na semana o foco dirigido para o Ministério da Agricultura, onde pipocam denúncias de corrupção. O PMDB agiu rápido e enviou o ministro Wagner Rossi para expor aos parlamentares as razões da demissão do Jucazinho, irmão do líder do governo, Romero Jucá. Mas neste final de semana, a imprensa, sempre a imprensa, trouxe mais denúncias. Nessa questão, um colega nosso jornalista da Veja foi agredido pelo lobista Júlio Froés, que está nos noticiários. Os jornais mostram que os órgãos empregavam os filhos de ilustres donos do PMDB. Aí vai Renan, Orestes Quércia...
Para ajudar a mudar o foco das denúncias, os políticos deverão discutir a crise mundial que se agrava na Europa. É a pior crise desde a Segunda Guerra mundial, refletida pelo desempenho das bolsas europeias.
Se tiver mais um tempo, quero voltar ao caso Jobim, ou melhor, aos comentários feitos pelo ex-ministro da Defesa e que causaram sua demissão. Na verdade o que Jobim revelou em conversas com jornalistas sobre o perfil do governo Dilma, com críticas a determinados ministros são conteúdos de conversas dos próprios petistas. Há uma preocupação com o estilo autoritário da Presidente, que não abre espaços para a discussão política.
A chamada aliança política do PT e PMDB para governar o país é letra morta. As principais decisões são tomadas pelo núcleo duro do Planalto, em sintonia fina com Lula. Por conseguinte, a classe política fica afastada e carimbada com a pecha de mercantilistas por forçarem seus pedidos com ameaças de votações contrárias ao governo. É essa insatisfação que poderá fornecer combustível para tornar o segundo semestre legislativo, explosivo, ou no mínimo, com fortes emoções.
Roberto Chamorro
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